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Como uma das ações da Frente Parlamentar em Defesa de Políticas Públicas para Mulheres de São Luís, o Coletivo Nós (PT) lança a campanha “Nós Menstruamos”, uma ação coletiva pela desinvibilização da Pobreza Menstrual. O lançamento acontecerá na próxima quarta-feira, dia 1º de dezembro, às 8h30, na Câmara Municipal (localizada na Rua da Estrela, 257 – Centro). O evento é aberto ao público e estará recebendo doações de absorventes, que serão destinados a pessoas em situação de vulnerabilidade social.

“O objetivo da campanha é enfrentarmos esta problemática e fazer com que esse combate se torne uma Política Pública em todo o Maranhão. Para tanto, realizaremos ações educativas e de comunicação com a população, e mobilização nas Casas Legislativas Municipais visando a adesão de parlamentares e lideranças políticas de todas as regiões do Estado, que abracem a matéria da desinvibilização da Pobreza Menstrual a partir da proposição de Políticas Públicas e Sociais que melhorem a qualidade de vida das pessoas e impactem neste enfrentamento”, explicou a co-vereadora do Coletivo Nós, Flávia Almeida.

Segundo a parlamentar, inicialmente a campanha se articulará nos municípios da Grande Ilha (São Luís, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar) e em Alcântara, para depois articular as demais regiões do Maranhão. Entre as propostas está a apresentação de Projetos de Leis nas Câmaras dos 217 municípios maranhenses, dispondo sobre, por exemplo, o fornecimento de absorventes higiênicos nas escolas da Rede Pública Municipal de Ensino e nas Unidades Básicas de Saúde.

A campanha tem o intuito de promover acesso à informação sobre menstruação alcançando prioritariamente as pessoas que menstruam (crianças e adolescentes, mulheres, homens trans, pessoas não-binárias e intersexuais) das comunidades quilombolas, periferias e zona rural dos municípios envolvidos, e contribuir com a diminuição dos índices de Pobreza Menstrual destas localidades.

Flávia Almeida ressaltou a parceria do Coletivo Menina Cidadã na criação e execução da campanha. “A partir da escuta das meninas, surgiu a ideia de criarmos juntas a Nós Menstruamos. Nos aprofundando no tema, ficou evidente a urgência de fomentar políticas públicas eficazes em enfrentar a problemática da Pobreza Menstrual, até atingirmos a sua erradicação, garantindo dignidade a todas as pessoas que menstruam e que possam passar por esse período de forma adequada”.

Entre as ações da campanha está a formação de mobilizadores que serão multiplicadores em seus municípios e bairros em que residem; a elaboração e distribuição de cartilha para pessoas que menstruam; rodas de conversa em unidades de saúde, maternidades, associações de bairros, e escolas de ensino fundamental e médio; criação e aprovação da Lei nas Casas Legislativas, que dispõe sobre o fornecimento de absorventes higiênicos nas escolas e postos de saúde, bem como outros PL’s sobre a temática, um exemplo é garantir o acesso à água e sabonetes em banheiros de escolas públicas.

A Nós Menstruamos também traz como ação a distribuição gratuita de absorventes e de itens básicos de higiene para pessoas em situação de vulnerabilidade, como em situação de rua, população carcerária e privadas de liberdade.

Pobreza Menstrual

A Menstruação é um processo natural do corpo, vivenciado por milhões de pessoas – entre crianças e adolescentes, mulheres, homens trans, pessoas não-binárias e intersexuais –, mas que ainda é um tabu, pouco discutido, cercado de desinformação e preconceito. Aliado a isso, tem-se os fatores da desigualdade social, racial e de renda, que podem tornar esse período problemático para quem menstrua, impactando tanto na vida social, quanto na saúde, educação e vida pessoal. Esta precariedade denomina-se ‘Pobreza menstrual’.

A expressão é utilizada para falar da ‘pobreza’ no sentido literal, que vai desde a ausência de Políticas Públicas, a falta de condições financeiras para comprar produtos de higiene menstrual, de saneamento adequado em casa e na escola, mas também da carência de conhecimentos necessários sobre esse período do ciclo reprodutivo, da falta de informação e de apoio. De forma resumida: é a ausência de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimentos sobre a menstruação.

“Menstruar é algo completamente natural e mesmo sendo algo biológico e que indica uma boa saúde íntima, ainda é cercado de vergonha, medo, preocupação e até rejeição por quem passa por isso, e que se torna ainda mais forte quando a pessoa não tem os itens mínimos de higiene necessários. Todos estes fatores aliados à falta de conscientização, carência de educação sexual e de políticas públicas sobre menstruação contribuem, por exemplo, para que muitas pessoas que menstruam se sintam envergonhadas até mesmo ao serem vistas comprando ou carregando absorventes”, destacou Flávia Almeida.

Um estudo realizado pela antropóloga Mirian Goldenberg mostra que uma em cada quatro meninas no Brasil faltam à aula por não possuírem absorventes, e dessas, 50% nunca falaram sobre o assunto na escola. É direito de crianças e adolescentes uma escola de qualidade e acesso à água, ao saneamento e à higiene nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida, assim como outros direitos básicos de qualquer cidadão como à moradia digna, saúde – incluindo sexual e reprodutiva – e informação.

A falta de acesso a absorventes além de provocar uma perda de confiança e autoestima em quem menstrua, pode trazer grandes riscos para a saúde de quem precisa buscar alternativas para conter o fluxo menstrual. De acordo com Mirian Goldenberg, 80% das mulheres entrevistadas, já substituíram o absorvente por papel higiênico e 50% já utilizou roupas velhas com o mesmo objetivo, outras já usaram saco plástico e até mesmo miolo de pão. Esses métodos optativos não são seguros para a saúde podendo apresentar altos riscos de infecções no trato urinário, lesões nos órgãos reprodutores e uma grande diversidade de inflamações e complicações.

Um dos principais motivos pela ausência de itens para higiene íntima é de natureza financeira, afetando principalmente as pessoas em situação de maior vulnerabilidade social. O relatório Livre para Menstruar, elaborado pelo movimento Girl Up, estima que uma pessoa que menstrua gasta entre R$ 3 mil e R$ 8 mil reais ao longo de sua vida com a compra de absorventes.

Texto: Suzana Santos

Foto: Jasf Andrade